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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Liberdade, a melhor idéia possível



Olhos atravessam o vidro no berçário da maternidade e ali parecendo esquecido do tempo, relembram a si mesmo, os seus filhos reais ou imaginados e um filminho leva e trás tudo de bom que pode vir a ser. O nascimento de um bebê remexe sentimentos, e pode trazer à consciência sentimentos escondidos, que se verbalizados contribuem e muito para o autoconhecimento. Vale à pena considerar o estado que esse olhar atinge, enxergado através da fragilidade de um recém nascido - o destino! Moira, cumpre o vaticínio de seu nome, destino na mitologia grega, e apresenta uma nova concepção de viver, ao conceber uma maternidade homo afetiva. Sua ação confirma a liberdade. A vinda de Martim repercute nas páginas da internet, estimula um diálogo entre as diferenças, que definitivamente não são só de gênero, mas da multifacetada experiência da vida humana. Essa tal felicidade, que é ensejada por todos amigos e familiares reforça a própria necessidade de crença e afirmação de nossas escolhas.Disse La Beauvoir, que o gênero é construído e Judith Butler na investigação sobre a construção da identidade - que as figuras homem e mulher definidas exclusivamente como macho e fêmea ultrapassam esses limites,pois na construção de identidade de gênero, é possível analisar a instituição da ‘heterossexualidade compulsória’ pela vida social em nosso meio.Nós humanamente falíveis, sempre estaremos buscando atender, no mínino reconhecer nossos desejos.E ao constatar a realização da vontade de duas jovens mulheres em sua plenitude,sentimos o vento fresco da liberdade! Talvez por essa razão tantas pessoas se mobilizaram entusiasmadas com a perspectiva possível dessa coragem em ser exatamente o que se quer.Viva o Martim, mensageiro de um novo tempo!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

duas mãezinhas


O que te faz ou te fez feliz ? Por supuesto, nem sempre o sentimento foi originado pelos mesmos motivos, mas certamente a sensação de plenitude é a mesma. Se religiosos, diríamos que nessas ocasiões, foi alcançado o êxtase! Comparada à monotonia, a alegria é um disparate, uma libertação do nada. O nada é tão entediante que até nele cabe qualquer movimento, até mesmo a atenção na vida alheia, em coisas que não nos dizem respeito, em ficar procurando pelo em ovo, minhocando emoções, tentando não encarar o vazio. Punto e basta, agora estou falando do oposto a esse estado.Sentir-se feliz por ver sentido no cotidiano, me parece um dado de felicidade.Quantos estudaram as zil e uma maneiras de tratar do tema, mas nunca chegaram a um consenso.Seria a felicidade um maia, uma ilusão,uma sensação, um sentimento, uma vocação? Gosto (e não sou só eu) de ver pessoas nesse estado, notar a felicidade é reconhecê-la possível e crer na humanidade, esperançoso. Me sinto especialmente feliz por ver duas jovens mulheres realizando o sonho da maternidade, uma delas é minha filha, e é a sua mulher quem vai dar a luz, nos dias que se seguem.Vencer preconceitos não é bolinho,se afirmar em todas as situações então, é admirável.Elas são demais!Benvindo Martim!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

andy warhol no face


Agora é assim, temos uma boa desculpa para evitar trânsito, aluguel,flanelinha! Sem sair do aconchego do lar,declaramos abertamente o fascínio pelo mundo clicado do mundo real.  Podemos sobreviver virtualmente, conversando com amigos distantes,fora do país ou de nossas vidas, acessamos vidas que nos interessam checar, acompanhar, conferir destinos, ou simplesmente, exercitar efeitos de brincar de elogiar e ser elogiada,dar opiniões ou ler as dos outros...assim consumimos nosso tempo.Mas o que me chama atenção , é o que tenho vivenciado; quando visitamos um amigo próximo, acabamos de frente para o computador! Abrindo sites por diferentes razões,mergulhamos novamente na dependência de comunicação da qual fugimos ao sair de casa , em busca da materialização dos seres  de presença física e calorosa.Ele, o meio,emplacou, se faz presente e logo a gente  lembra de mostrar para o amigo; um trabalho, um projeto,uma foto, sei lá... E derrepente, lá estamos dominados , olhos na tela com os dedos ágeis buscando o teclado. Louco isso, penso como seria a página do  visionário Andy Warhol no facebook, e o quanto vivemos a universalização democrática de nossas vidas on line.

domingo, 15 de agosto de 2010

men for sale

Dormia eu o domingão quando fui acordada pela Lu, uma amiga que insistia para irmos à uma liquidação de homens.
-Está louca, que é isso ?perguntei - Isso mesmo que você ouviu, aí não está curiosa?Que pergunta, me vesti, lasquei um óculos escuros e lá fomos nos esbaldando com a idéia.A mostra acontecia num lounge, à entrada uma extensa escadaria tipo deck de madeira onde já se via alguns caras : uns bonitos,outros charmosos ou feios mesmo,alguns fumavam,outros comiam à ‘’ estrangeira’’ sob o sol, relaxavam os dali de fora.Ao entrar no recinto sofisticado, deparei com um tipo altivo, moreno grisalho bonitão e elegante conversando com um seu semelhante no porte, porém loiro.Perguntei:Vocês estão visitando o espaço ou estão na promoção?O bacana manteve o ar de ‘’sou tudo’’ e em seguida disse sorrindo maliciosamente: Estou na degustação.E aí se pos a falar; queria ser escolhido por uma mulher bonita, no padrão de seus bens e conforme ele se apresentava exibia na tela do seu I pad, imagens de suas propriedades, uma peruona daquelas king size, american style dessas que atravancam o trânsito,nada a ver na cidade, nas quais cabem oito pessoas, mas sempre só tem o motorista,uma belíssima casa chão na areia beira-mar,uma lanchona jumbo correndo no vídeo em velocidade queima diesel, uhn...O que a mim não impressiona pois já que é prá ser besta, eu aprecio mais um veleiro e não gosto dessa necessidade de ostentação.Enfim, o fulano encantado com as imagens que o refletiam, por nem um momento demonstrou algum interesse por uma de nós que nem esperamos para ver o resto da apresentação... Um porre de mesmice, propaganda institucional de uma pretensa felicidade.Na sequência o amigo, gringo cinqüentão, sorria se dizendo ideal para a mulher brasileira,pois era liberal,viajado e divertido.Ah, tá!Dito isso ficamos ali esperando que o papo engrenasse esperando com isso dar boas risadas,mas não foi o que aconteceu.O gringo sorria balançando a cabeça positivamente, nos aprovando com o olhar insistente e nada mais que isso.Perguntamos de onde era, ele disse que era do mundo, um cigano,um solitário querendo encontrar um refúgio! Credo, olhamos uma para a outra e saímos fora, beijinho, beijinho e até nunca lobo bobo.
Fomos em direção ao balcão carregadinho de bofes: altos, baixos,jovens, maduros, então pedimos água e refrigerante para preservar a consciência e não comprar gato por lebre.Eis então que se aproxima de mim um garotão daqueles.O que tinha de atraente correspondia à sua excessiva vaidade, falou sem parar na primeira pessoa do indicativo , anunciou todas suas qualidades, tantas que cansei e já sabendo a rota desse indivíduo, perdi o interesse, que peninha, porém seria impossível suportá-lo.Fomos surpreendidas com o garçom nos trazendo dois drinks coloridos em lindas taças, dizendo que estes nos fora oferecido por dois senhores da mesa ao lado.Sorrimos na direção destes agradecendo curiosas, o que fez com que os dois sexagenários conservados no álcool, se levantassem sincronicamente e se dirigissem até nós.No breve papo que travamos entre sorrizinhos matreiros, estes disseram que estavam acostumados a se relacionar com mulheres mais jovens, mas que percebendo que estávamos desambientadas, para realizar a escolha,estavam nos dando um help,pode? Agradecemos a amabilidade e saíamos de fininho, quando alguém me tocou no ombro, não localizando quem fora,me irritei e disse para a Lu : - O que você acha de irmos embora ? Ela pelo visto adorou a sugestão e saímos rapidinho,entramos no carro rindo, sem levar ninguém.

yoga pela manhã


Estamos unidos na condição de habitantes de uma mesma cidade, caótica, pirante, e assim nos unimos no inconformismo, na crítica fina e aguda a tantas arbitrariedades, mas assim como nos unimos pelas vicissitudes, também podemos nos unir pela paz e harmonia. Parece papo de hippie velha mas afinal existe outra saída, senão a busca pelo bem estar?Foi com esse discurso que um homem altamente espiritualizado abriu o encontro pela paz hoje pela manhã no parque do Ibirapuera. Ele, um hindu, quem sabe um guru,um dos milhares de mestres que existem lá na Índia,falou para os friorentos paulistas que foram atrás de um viver de outro modo, por momentos nesse gélido domingo.O guru falou sobre as inúmeras conexões que estabelecemos diariamente via internet, com um mundo de informações , e que podemos praticar uma conexão também com o invisível, uso esta expressão para traduzir o divino, tentando assim vencer o preconceito de quem poderia não se identificar com esses papos de espiritualidade.Mas vamos em frente, o indiano comentou que não encontramos paz nos supermercados, nem nos shoppings da vida, e nos conectando com o nosso ser interior, aquele pedaço de nós que sabemos ser muito legal ( coisa minha), mas quem não se acha legal prá caramba em vários aspectos?Voltando, estar em contato com o melhor da gente, nos inspirando para oferecer o melhor para trabalhar pela paz, ainda que não falemos a respeito, podemos sentir a conexão com o melhor dos outros. Podemos enfim nos unir pela paz e eu acrescento pela harmonia e quando ele comentava sobre o tempo no ano passado , quando nesse  mesmo encontro fazia muito calor e hoje muito frio,  muitos temiam pelo desenrolar não tão efetivo hoje, então o indiano  afirmou : - Hoje será diferente! Quando terminou a frase, o sol apareceu! Coincidência?Que seja, mas foi tão sintomática a aparição solar se apropriando da figura do homem guru,vestido a caráter e da multidão esperançosa que buscava uma experiência sensível, que choveram aplausos, foi lindo, não exagero se disser que foi impressionante. Para mim foi suficiente para ainda ouvindo o Jai Uthall (um músico de cítara) sair daquele reduto de yogues paulistanos,voltar para casa satisfeita pela benção recebida- de pensar com amor e assim obter mais segurança,conectada com esse invisível e nele, que está em mim, saber que posso encontrar refúgio.


sábado, 14 de agosto de 2010

budismo ao cair da tarde

O Budismo segue o caminho do entendimento do ensinamento sagrado. E o mais importante é vivenciar o que se aprende.Não basta ouvir,ouvimos e tiramos uma conclusão e daí ? Aí é que se define o Budismo, sugere ir além da compreensão, é preciso realizar o que foi ouvido.
...Entre o dizer e o fazer, existe um oceano... é preciso realizar!
Nos relacionamos com os outros assim como nos relacionamos com nós mesmos. Nascemos sós e morreremos sós. E nesse meio campo, existem os relacionamentos, mas sempre sendo fiel a si mesmo, sem máscara. Não podemos viver a vida de ninguém. Nossos sentimentos, só nós podemos sentí-los. Nunca vou viver o outro. As pessoas são nossos espelhos.Quando me relaciono com alguém , estou me relacionando comigo mesmo.
Temos uma imagem conceitual das coisas em geral. Cada um de nós tem uma percepção relativa à sua experiência anterior, com determinado objeto ou pessoa.
Essa impressão configura a imagem mental que temos de coisas e pessoas, porém necessariamente o que temos registrado em nossa mente, pode não ser verdade, pode ser um reflexo de nosso sentimento associado num tempo passado, que pode mudar, e que certamente não é mais fiel àquela imagem que fazíamos anteriormente.
Lama Michel ponderou assim a respeito de vidas passadas: Quando alguém se refere a uma de suas vidas passadas, fala onde vivia, como se mantinha, quem eram seus pais, ou outra referência qualquer que efetivamente não importa, o que estamos falando aqui, disse ele,é sobre o que sentíamos nessa outra vida, o que produzíamos como ser racional , assim podemos ter lembranças na vida atual de afinidades, gostos, aptidões. O tema desse ensinamento era relacionamentos, que alcançam todas as formas existentes em nossa vida social, familiar e profissional.
Disse que nós temos registrado na mente, uma imagem de alguém e dificilmente avançamos nos sentido de entender suas mudanças, essas que nunca podem deixar de existir, porque tudo muda. E se essas imagens mentais forem permanentes fatalmente irá nos causar muito sofrimento, pois achamos que o outro sempre será aquilo que não é o desejado por nós. Também imaginamos saber seus sentimentos, saber até mesmo o que o outro sente sobre nós de contrapartida.
Todas as ponderações nesse sentido geram sofrimento, pois não sabemos, nem saberemos jamais o que o outro sente.
Lembrou que aos doze anos teve um encontro com o Rabino Nilton Bonder e nunca mais esqueceu o que este lhe perguntou quando se apresentaram.O rabino queria saber dele Lama Michel,se ele estava ali se apresentando a ele Nilton Bonder, esperando ser visto como aquilo que ele queria ser, ou estava tentando ser, e se estava vendo o rabino como ele imaginaria que este fosse.Ou seja, nós queremos que os outros nos vejam como nós queríamos ser, e para isso nos empenhamos em nos mostrar dessa forma, e assim como nos exigimos uma aparência (persona) , também projetamos uma expectativa no outro. A duração destas cenas é curta, porque ninguém agüenta manter um personagem indefinidamente, e quando cai a máscara, afeta radicalmente o relacionamento que vinha tão bem.
A forma como vivo hoje, reflete o que vivi no passado. Minhas experiências afetivas, por exemplo, ficam registradas nas imagens mentais e ao conhecer uma pessoa atuam imediatamente. Bobagem pensar que alguém vá te entender totalmente, isso não é possível, para que o outro pudesse me entender, só sendo eu mesmo. Eu posso ver, procurar entender, mas não posso entender totalmente as razões dos outro e muito menos julgar.
Comentou que na cultura tibetana, nada é dito claramente. Se alguém quer te comunicar , te alertar, por exemplo, sobre alguma coisa, utiliza subtextos que dizem outra coisa para fazê-lo finalmente chegar ao que não foi dito por trás dos volteio.
E eu fico com a máxima do Rabino Bonder, - Se eu sou eu e você é você, dá para a gente conversar!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

babados, egos & firulas


Gente! Tenho me divertido com os bate papos do facebook. Admito que seja maldoso gostar de identificar alfinetadas, mas admito minha humanidade! Não tenho mais coragem de arrepiar , foi-se o tempo.Envelheci, agora peso minhas palavras, fico receosa em comentar na real como muitas vezes gostaria. Guardo minhas opiniões, não critico quem as emita, diverte o leitor tanta franqueza,com bom vocabulário. Admiro na verdade essa coragem de exposição, eu era assim(!) É legal ver como as pessoas se colocam pontuando na lata o que pensam.Pena não haver continuidade no diálogo e assim fazendo interrompem um rico discurso que poderia continuar apesar das divergências. Toda a polêmica gera seguidores e no face ficam muito às claras as antipatias e simpatias. Acho legal acompanhar as defesas de opinião e penso que vivemos um mundo sem verdades.Tudo que é discutido está valendo para os dois lados.Curiosamente em alguns diálogos discordantes não há mediação condizente.O mal entendido se torna praticamente uma licença verbal pela necessidade de comunicação dos conversadores virtuais.Ninguém precisa se magoar, nem levar tão ao pé da letra,acho que as pessoas poderiam continuar se divertindo apesar de suas opiniões terem sido contrariadas.Porque afinal esse meio não passa de um passatempo no qual a melhor parte é bobagear, filosofar, clicar um ‘curti isso’,postar umas fotos,fazer uma gracinha e voltar um tempinho depois prá ver se tem alguma coisa interessante.Me constrange dizer que gosto de ler conflitos de opinião, mas é gostoso interpretar os sentimentos dos dois lados, e ir se colocando em cada um deles, finalmente achar que ambos tem lá suas razões.Não deixa de ser um exercício de relacionamento, ah! É mesmo essa a idéia... página de relacionamento.Humano, demasiadamente humano!

domingo, 8 de agosto de 2010

Convívio de CLICS



Cada vez que abrimos o facebook nos deparamos com fotos que nos carregam para uma viagem no tempo vivido ou no presente reconhecido como realidade. Amigos com os quais partilhamos bons momentos na mocidade, agora maduros como nós exibem aquele sorriso conhecido que nos faz constatar que estamos todos envelhecendo. Que bom estarmos plenos de saúde e vitalidade, e que pena, alguns dos nossos já terem morrido. Outro dia um amigo disse que a falta de um desses que partiu para nunca mais, não lhe fazia falta, pois o sentia próximo, porém em outra dimensão. Gostei dessa sacada, pois se nada sabemos da vida pós morte, porque carregar a ausência com dor, sentir saudades da companhia é um sentimento intenso que pode se tornar agradável se não for dramatizado.E vai saber qual seria as condições de vida, se esses que se foram, ainda estivessem padecendo por aqui.A vida não é fácil para ninguém, mas quem consegue viver o presente pode quase sentir a almejada tranqüilidade.Evidentemente que no cotidiano do presente é que se estabelecem os conflitos, as dificuldades, porém se estivermos sem uma dor física, bem alimentados e sem nenhuma culpa,pode-se dizer que estamos em paz.Em geral, sofremos por antecipação ou por recordações saudosistas que não levam a lugar nenhum.Portanto, vendo as fotos dos amigos, alguns com os quais nem convivo mais, me agrada vê-los sorridentes, aliás essa mania de facebook tem isso de legal, nele todo mundo está feliz, comenta positivamente os posts dos amigos, dos reais e dos virtuais.Se não tem muito a declarar, simpaticamente clicam que curtem aquilo que vêem.Com isso está também inaugurada a nova etiqueta de comunicação entre as pessoas, o politicamente correto num meio novo que arrebata a todos.Me divertem as pessoas que destilam sarcasmo por pura vontade de polemizar,assim como os engajados em diferentes causas, os apaixonados por música e manifestações culturais prestam o serviço de divulgação das agendas da cidade e os artistas cutucam as emoções com suas obras, enfim...é um universo de olhares, fisionomias, reflexões,opiniões e lembranças, muitas lembranças...Revendo gente lá do passado com um sorrisão, comprovando que estamos aí apesar de tantos percalços pelo qual todos passamos, nós, os mais antigos testemunhamos muita história, somos arquivos vivos de uma geração.

Viver e Consumir na ausÊncia de si mesmo


Viver e consumir, na ausência de si mesmo

Não nego gostar de comprar, consumir, mas tive que escolher ter menos grana para manter minha sanidade que aos 57 precisava ser preservada. Pedi demissão e reiniciei minha vida.Surgiu uma oportunidade e fui para NY e entendi melhor a lógica perversa da indução imposta pelas imagens para o consumo total e desenfreado.Agora vacinada, pude observá-la com distanciamento.Nos identificamos pelos bens que possuímos, esses valorizados pela aparência que uma vez construída nos coloca em determinado lugar na pirâmide social.Somos considerados pelos bons contatos, ainda que até virtuais, pela quantidade!Associamos consciente ou inconscientemente os bem sucedidos aos sues bens declarados, anunciados ou postados, agora nessa onda irreversível da web. Confirmei muito do que pensava nessa quinzena em NY.O estímulo ao consumo e a vida aparente promove um sofrimento silente mesmo nos que tem alto poder aquisitivo, nunca é alcançado o suficiente, sempre é pouco, frente a tantas ofertas das imagens do que se pretende ‘’felicidade’’.Isso gera uma compulsão coletiva como a vida observada na grande maçã, o espelho da sociedade moderna.Minha geração começou naqueles tempos idos da década de 60, início do pensamento ecológico, quando o ideal que movia a juventude era a contestação à hipocrisia dos valores estabelecidos por um modo de vida ‘’burguês’’.Hoje, os jovens americanos que vi não são em nada diferentes dos mais velhos, e a minha geração cedeu, desistiu e está conformada, estamos igualados no desejo comum do consumo para distrair de nós mesmos.Lá em NY, todos andam pelas ruas absortos numa introspecção total, I pods na mão, um copão de Starbuck, ou qquer outro mamadeirão, sempre comendo, checando mensagens mesmo quando estão acompanhados fixam olhar na infinidade de telas; de laps, notes e ‘’ais’’.Portanto todos os sentidos estão ocupados e com fones de ouvido se protegem dos outros e se eventualmente se trombam , rola um sorry, êpa , um indivíduo da mesma espécie, mas que nem se sabe o gênero, pois não se olham, só se evitam!No táxi, uma tela, na rua várias e na mão a sua particular de um mundo só seu. A atenção é voltada para para qualquer lugar que não seja a realidade e o contexto do ambiente.Estamos out! Assim sendo se os olhos saem das telas, a expressão é de um vazio absoluto.E não muito raro, freqüentemente surgem na multidão multiracial pessoas ‘’fora da casinha’’, que caminham falando com amigos imaginários suponho, pois a solidão é uma constatação visível.A loucura está tão contextualizada que não surpreende ninguém, tudo é possível nessa cidade plugada na virtualidade e fascinante pelo impacto que causa, mas assustadora para a sensibilidade.