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segunda-feira, 19 de julho de 2010

idéias

PROJETO “ESCOLA SEM PAREDES”

A sociedade atual em seus diferentes segmentos vem demonstrando preocupação com a questão ambiental, alguns setores simplesmente seguem a tendência do mercado, outros mais engajados, estabelecem interessantes parcerias por enxergarem a importância de agregar valor ambiental às suas gestões corporativas, e desta forma vimos constatando a disseminação dos conceitos ambientais oportunamente na pauta do dia para satisfação dos ambientalistas e dos profissionais que a muito trabalham na área.

Na década de oitenta quando iniciamos institucionalmente a discussão acerca da educação ambiental, precisávamos provar sua importância enquanto ferramenta para o convencimento da população, até mesmo junto ao corpo técnico do recém criado órgão ambiental do estado de São Paulo. Em decorrência dessas dificuldades, desenvolvemos um modo de fazer educação ambiental permeando tematicamente conceitos mais abrangentes que iam além das causas dirigidas à defesa preservacionista da fauna e da flora, incluindo a defesa das ‘idéias do multiplicar’ para atingir todos os segmentos sociais, estimulando iniciativas abrangentes à sociedade civil conscientizando para a percepção do meio ambiente sob um olhar humanista no sentido de estabelecer junto a população um legítimo comprometimento com a causa ambiental, a partir da mudança de hábitos, estimulando o repensar valores sobretudo os de consumo, visando educar o adulto através da criança, considerando serem estas as grandes agentes de um futuro saudável.

Apesar da grande evolução do tema, ainda hoje sentimos a falta de entendimento de uma ecologia dita humana, que trata das relações essenciais do homem primeiramente consigo mesmo, reconhecendo sua natureza ,seu papel como parte do todo, se enxergando como cidadão planetário.

O discurso ambiental das últimas três décadas , hoje alcança destaque, porém ainda não está internalizado na educação infantil e infanto- juvenil, como valor que deva ser estimulado em sua escolaridade, mostrando-se ainda restrito à uma visão preservacionista elegendo como objeto de defesa recortes do meio ambiente natural, não referindo-se aos valores éticos indispensáveis para formar crianças felizes que se tornarão cidadãs responsáveis , num futuro de vida com qualidade garantido pela sustentabilidade também calcada na ética humana.

No final da década de oitenta, havia a discussão conceitual sobre “a formalidade” ou “não- formalidade” para a “disciplina” ou “não disciplina” de educação ambiental,polemizava-se sobre a visão antropocentrista, e ponderava-se acerca das competências das instituições no trato dos temas ambientais, até sobre quais eram as especializações exigidas na formação do profissional para aplicar o conteúdo ambiental em sala de aula. Finalmente foi legislada como disciplina, o que não muda seu caráter multidisciplinar ,e hoje a educação ambiental está inserida oficialmente na educação formal. Porém continuamos propondo, como sempre, que a educação ambiental não seja restrita à uma disciplina e sim compreendida como um “modo de educar” além das fronteiras da compartimentação dos conhecimento, mas na vivência cotidiana da vida escolar.

Amadurecendo ao longo desses anos o “modo de educar”, incentivamos a escolarização da criança como um todo, inserindo a questão ambiental no escopo da educação democrática que não impõe regras, contrariando a escola na qual o educando se submete a um regimento.

Acreditando ser típico na criança o interesse pelo mundo natural iremos educá-la a partir de seus próprios interesses, cabendo ao educador a presença estimuladora que dialogicamente colabora na construção do conhecimento em todas as áreas, promovendo uma formação integral para a vida, através da educação democrática, aplicando a metaeducação, que será explicada a seguir.

Nesse processo as ferramentas de apoio partem das escolhas feitas pela criança/educanda que ao praticar diariamente o que a atrai sentirá prazer por estar na escola, nessa escola que não tem cadeiras enfileiradas frente ao professor que vigia sua postura, seu comportamento, sua adequação às normas para avaliar seu conhecimento e testá-lo para aprovação.

Na “Escola sem Paredes” buscaremos tornar a infância um período de felicidade sem utilizar dispositivos de sujeição através da disciplina. Nessa perspectiva estaremos formando uma geração que repercutirá em uma nova sociedade questionadora dos meios de dominação , crítica em sua essência ética praticada na gênese de suas vidas,nessa infância vivenciada com liberdade, na qual para alcançar objetivos é necessário ser verdadeiro, sem as marcas do estímulo à hipocrisia na sujeição a regras e escolhas que lhe seriam impostas na educação convencional.

Neste processo educativo não existe vários “educar”: para o respeito ao meio ambiente,para a cidadania, para o movimento físico, para o pensamento lógico, abstrato ou humanista, todas essas “educações” estarão contidas num espaço estimulante de possibilidades de real interesse, fomentador do prazer em aprender, instigado pela não obrigatoriedade.

Muitos de nós, crescemos entendendo que só poderíamos alcançar a realização de nossos desejos se nos submetessemos aos condicionamentos que nos premiariam pós-sofrimento e abnegação ainda sob a égide da moral religiosa, fundamentadora da escola em sua origem.Cumprindo o roteiro projetado pela sociedade e pela família , muitos de nós quando crianças nos submetíamos ao formato disciplinatório , deixando de desfrutar com alegria o processo de aprender no cotidiano de nossa visa escolar. Assim muitos não puderam se expressar para reconhecer sua vocação , chegando à idade adulta sem estar fazendo, ou sendo o queria mesmo “ser”. Ainda hoje é comum constatarmos esse dilema, muitos adultos sobrevivem sob a sujeição a um modo de vida que não lhes traz prazer, contentamento ou qualquer tipo de realização, apenas resignados a receber um salário do qual se tornam reféns.

Aparentemente bem sucedido, um adulto insatisfeito, fomenta o individualismo buscando compensações que incentivam o consumo, justificando a necessidade da manutenção de um modo de vida sem qualidade.

Esse quadro decorre das condicionantes geridas desde a infância na busca pelo pertencimento ao grupo visando através de uma contínua adequação ser aceito socialmente pela semelhança ainda que esta não exista. Ignorando as vontades desde a infância normativa e disciplinatória, tende a não desenvolver plenamente o auto-conhecimento comprometendo assim toda uma vida.

Num ciclo perverso num ambiente em que sucessivamente a dissimulação é uma estratégia que surte efeito , impele à busca por substitutivos de prazer que satisfaçam esse espírito moldado por fatores externos que impedem o olhar o “outro” , visto como um concorrente contumaz que sempre pode tomar seu lugar, pois a vida que aprendeu é a do sacrifício de suas vontades na busca incansável da oportunidade de vencer e o vencedor é o que sabe levar vantagem , no ranking da vida.

Valorizar a qualidade do cotidiano da vida das crianças desde a primeira infância quando estas iniciam o convívio social de forma plena é lhes oferecer diversidade e liberdade permitindo a elas transitar pelas atividades oferecidas nas diversas áreas do conhecimento. Não encontrarão a escola de “disciplinas”, pois não irão se disciplinar e sim explorar agradavelmente esse meio ambiente educativo.As crianças deverão ter motivos verdadeiros para desejar ir à escola, pois sabem que nela se divertirão.

Neste ciclo evolutivo de construção de conhecimento, também não há um currículo estabelecido comum às diferentes crianças, afinal elas vem de lares diferentes, têm necessidades peculiares , portanto não há uma “grade” curricular de matérias a serem cumpridas.

O alcance do prazer negado pela obrigatoriedade, deixa de existir quando o educando exerce seu poder de escolha, propiciando o auto- conhecimento na valorização de sua vontade, é fonte de exaltação do saber que assim fará sentido. A Escola sem Paredes, metaeducadora é um espaço onde impera o respeito e a amizade que fomenta um crescimento sadio e legítimo em si mesmo para a consciência de cidadania que se pretende tão apregoada sobretudo no que tange às questões socioambientais e a implementação da sustentabilidade do nosso planeta.

Só podemos almejar a sustentabilidade do planeta se neste houver cidadãos que se vejam como parte desse de forma legítima.

Crianças não devem ser subestimadas, pois ao perceberem incoerências no falar e no agir dos adultos, passam a desconfiar destes , mas apesar disto seguem o exemplo do que vêem concluindo que é assim que se deve proceder. Como grandes mestres, esses pequenos observadores provocam risos em suas investidas com tiradas desconcertantes, e muitas vezes são admoestados por revelar o que não poderia ser revelado.

A educação convencional educa para a competição, para vencer acima de tudo e que nunca poderemos fazer o que queremos, porque a noção do pecado associada ao prazer é estimulada rotineiramente, conferindo o prazer para os dias de férias, para os momentos de liberdade que na infância se restringem ao momento que os pais ou professores acenam nesse sentido.

Muitas vezes presenciamos o vigor com que algumas crianças continuamente reprimidas agem ao se sentirem libertas num momento de recreação quando para se divertir expressam sua agressividade e nos adultos rancorosos, tristes ou aparentemente amáveis e sociáveis que trazem dentro de si muitos anos acumulados de condicionamento às mais diferentes situações.Esses adultos reproduzem a educação que receberam e dificilmente se mostram dispostos a abrir mão de seus valores individualistas por estes terem lhes custado uma vida disciplinatória e castrativa, assim não oferecem aos filhos a liberdade que não puderam viver , acreditando que ao mostrar-se firmes e convictos reforçarão o caráter de seus filhos mesmo que de forma consciente ou não, desconfiem desse modelo, e concebê-lo falido em suas próprias vidas.

Falar de educação, como vimos, nos faz refletir sobre nossas próprias vidas e nos estimula a pensar alternativas para a condição humana, aliando a sobrevivência ao bem estar , buscando a consonância entre nossa maneira de ver o mundo e a integridade dos valores que queremos ver fortalecidos nas gerações que nos sucederão.

Esse é um briefing da justificativa da “Escola sem Paredes’’ que visa estabelecer a metaeducação, uma proposta pedagógica que tem por estratégia a compreensão das diferentes inteligências, o entendimento das dificuldades de comportamento, a vontade de trabalhar a partir das escolhas dos educandos, que decidirão junto aos educadores como gostariam de ocupar seu dia.

Sem o regime de sinais, apitos, filas, horários determinados, o educando passará o dia fazendo o que gosta, de modo prazeiroso sendo orientado pelo educador da área que lhe interessa.

Portugues, Matemática, História, Geografia, Artes, Ciências ,Veterinária, Esportes serão vivências educativas que o educando escolherá a cada dia.

Ao chegar, o educando buscará informação no mural sobre o que fazer em cada espaço da escola e para os pequenos que ainda não sabem ler todos os dias um educador comunicará o que este poderá fazer, e assim sem fixar um planejamento o educando irá de encontro a sua atividade de interesse naquele dia.Um dia de cada vez pensando e praticando o que há de melhor para ser feito.

....Idéias ainda na construção de um projeto.

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